sexta-feira, dezembro 28, 2001

a casa agitada

cresci na casa. depois fugi. volto por obrigação.
amo a casa e não a suporto. há coisas que mudaram de sítio. mesmo alguns cheiros mudaram.

no natal voltamos todos. os vivos e também os mortos.
encontro o meu fantasma com oito anos
encontro o meu fantasma com dezoito
ouço todos os passos

volto ao meu canto no degrau da curva da escada de serviço. se vier alguém, posso escapar a tempo para a cave, para a copa, para a galeria, para o sótão. pelo postigo vejo a cozinha. chegam-me os cheiros. ouço as vozes na sala, os passos no corredor, nas escadas, nos quartos. ouço o cão no quintal. distingo o ranger de cada porta. sei quem sai e quem entra. ninguém me sente. sentada entre a roupa estendida na corda presa em vai e vem na quase hélice quase vertical do corrimão fumo um cigarro. o fumo sobe devagar e perde-se até ao sótão. aqui sossego. no centro do furacão-casa.

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