TRANSCRIÇÃO DE UNS OLHOS PRETOS E DE UNS SAPATOS DE FIVELA
crianças com toda a tristeza garantida pela vida
por ela consentida e abrangida e afinal
mais presente nos olhos do que o próprio olhar
tristeza tão pesada e concentrada como a pedra
crianças que algum mundo que não este nunca
tão poderosamente poderá matar
numa vida visivelmente ainda surpreendida
por ser coisa pequena embora coisa oposta ao nada
na forma diluída por exemplo de um reflexo do olhar
crianças criaturas que na superfície da infância
sobrenadam submersas crianças mais palavras que conversa
crianças tão confusas que confundem
em seu desprevenido abismo de surpresa
traduzido talvez apenas numas simples duas mãos caídas
quem nesta convenção de braços e relógios
já apenas conserva ainda acesa
a cru capacidade de às crianças consentir
um momento ingressar tão agressivas muito a seu pesar
na vida negação da vida apenas viva no adulto olhar
crianças que conturbam momentaneamente
quem é a morte toda condição de vida
quem é hábito e calma e só no olhar inquietação
crianças referência da infância e inocência
contradição unicamente consenti da
a quem sabe que só a morte é condição da vida
crianças que ao chegar já trazem olhos de partida
crianças causa de perturbação e readaptação
crianças coisas verdadeiramente incómodas até no à-vontade
com que sem bem querer insubordinam a cidade
crianças causadoras de uma certa dor sentida ou pensada
em quem deixou a vida em divididos dias
crianças coisas tão profundas tão perdidas
crianças que traí muito bons dias
ruy belo
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