domingo, junho 30, 2002
aprendi a ler com cinco anos. foi a minha avó que me ensinou. enchi páginas brancas de palavras escritas com letras maiúsculas de imprensa, a lápis. era muito divertido. percebi sozinha as minúsculas. a minha vontade de ler era imensa.
a tia lina lia-me todos os dias um capítulo do romance da raposa do aquilino. sentavamo-nos as duas no degrau de cima das escadas. a tia lina lia e explicava as palavras difíceis.
um capítulo de cada vez.
como agora
sexta-feira, junho 28, 2002
é sexta-feira. o homem está no porto.
eu tinha duas coisas boas e importantes para esta noite, mas estou cansada demais para sair.
a ana já ralhou comigo: "mãe, devias ir ter com os teus amigos!"
desculpa jorge, desculpa rosa: fico aqui, agarrada ao mac, a catar coisas.
o filipe veio jantar. voltou a apagar o blog dele. tenho pena mas também o entendo. deixo ficar o link par "page not found" à espera do próximo: acho que vai ser mais alegre.
fui ver a página do una.
olha, unatonto, unafilhote, unadoce, se eu tivesse perdido a esperança nas pessoas, acho que isto a faria renascer :-)
eu tinha duas coisas boas e importantes para esta noite, mas estou cansada demais para sair.
a ana já ralhou comigo: "mãe, devias ir ter com os teus amigos!"
desculpa jorge, desculpa rosa: fico aqui, agarrada ao mac, a catar coisas.
o filipe veio jantar. voltou a apagar o blog dele. tenho pena mas também o entendo. deixo ficar o link par "page not found" à espera do próximo: acho que vai ser mais alegre.
fui ver a página do una.
olha, unatonto, unafilhote, unadoce, se eu tivesse perdido a esperança nas pessoas, acho que isto a faria renascer :-)
Je veux une vie en forme d'arete
Sur une assiette bleue
Je veux une vie en forme de chose
Au fond d'un machin tout seul
Je veux une vie en forme de sable dans des mains
En forme de pain vert ou de cruche
En forme de savate molle
En forme de faridondaine
De ramoneur ou de lilas
De terre pleine de cailloux
De coiffeur sauvage ou d'édredon fou
Je veux une vie en forme de toi
Et je l'ai, mais ça ne me suffit pas encore
Je ne suis jamais content
Boris Vian
fui buscar este poema aqui
Do que você tem mais medo? Palhaço americano, carrossel abandonado, boneca de louça mórbida ou boneco de ventríloco?
roubei neste blog
roubei neste blog
quinta-feira, junho 27, 2002
quarta-feira, junho 26, 2002
terça-feira, junho 25, 2002
O sentimento dum ocidental
A Guerra Junqueiro
I - AVE-MARIA
Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.
O céu parece baixo e de neblina,
O gás extravasado enjoa-me, perturba-me;
E os edifícios, com as chaminés, e a turba
Toldam-se duma cor monótona e londrina.
Batem os carros de aluguer, ao fundo,
Levando à via-férrea os que se vão. Felizes!
Ocorrem-me em revista, exposições, países:
Madrid, Paris, Berlim, Sampetersburgo, o mundo!
Semelham-se a gaiolas, com viveiros,
As edificações somente emadeiradas:
Como morcegos, ao cair das badaladas,
Saltam de viga em viga, os mestres carpinteiros.
Voltam os calafates, aos magotes,
De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos,
Embrenho-me a cismar, por boqueirões, por becos,
Ou erro pelos cais a que se atracam botes.
E evoco, então, as crónicas navais:
Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado
Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado!
Singram soberbas naus que eu não verei jamais!
E o fim da tarde inspira-me; e incomoda!
De um couraçado inglês vogam os escaleres;
E em terra num tinido de louças e talheres
Flamejam, ao jantar, alguns hotéis da moda.
Num trem de praça arengam dois dentistas;
Um trôpego arlequim braceja numas andas;
Os querubins do lar flutuam nas varandas;
Às portas, em cabelo, enfadam-se os lojistas!
Vazam-se os arsenais e as oficinas;
Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras;
E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,
Correndo com firmeza, assomam as varinas.
Vêm sacudindo as ancas opulentas!
Seus troncos varonis recordam-me pilastras;
E algumas, à cabeça, embalam nas canastras
Os filhos que depois naufragam nas tormentas.
Descalças! Nas descargas de carvão,
Desde manhã à noite, a bordo das fragatas;
E apinham-se num bairro aonde miam gatas,
E o peixe podre gera os focos de infecção!
Cesário Verde (Lisboa, 1855-1886)
A Guerra Junqueiro
I - AVE-MARIA
Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.
O céu parece baixo e de neblina,
O gás extravasado enjoa-me, perturba-me;
E os edifícios, com as chaminés, e a turba
Toldam-se duma cor monótona e londrina.
Batem os carros de aluguer, ao fundo,
Levando à via-férrea os que se vão. Felizes!
Ocorrem-me em revista, exposições, países:
Madrid, Paris, Berlim, Sampetersburgo, o mundo!
Semelham-se a gaiolas, com viveiros,
As edificações somente emadeiradas:
Como morcegos, ao cair das badaladas,
Saltam de viga em viga, os mestres carpinteiros.
Voltam os calafates, aos magotes,
De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos,
Embrenho-me a cismar, por boqueirões, por becos,
Ou erro pelos cais a que se atracam botes.
E evoco, então, as crónicas navais:
Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado
Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado!
Singram soberbas naus que eu não verei jamais!
E o fim da tarde inspira-me; e incomoda!
De um couraçado inglês vogam os escaleres;
E em terra num tinido de louças e talheres
Flamejam, ao jantar, alguns hotéis da moda.
Num trem de praça arengam dois dentistas;
Um trôpego arlequim braceja numas andas;
Os querubins do lar flutuam nas varandas;
Às portas, em cabelo, enfadam-se os lojistas!
Vazam-se os arsenais e as oficinas;
Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras;
E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,
Correndo com firmeza, assomam as varinas.
Vêm sacudindo as ancas opulentas!
Seus troncos varonis recordam-me pilastras;
E algumas, à cabeça, embalam nas canastras
Os filhos que depois naufragam nas tormentas.
Descalças! Nas descargas de carvão,
Desde manhã à noite, a bordo das fragatas;
E apinham-se num bairro aonde miam gatas,
E o peixe podre gera os focos de infecção!
Cesário Verde (Lisboa, 1855-1886)
domingo, junho 23, 2002
também escrevi isto para o "click me" dos ícones s. joão, faz agora 1 ano
No Porto, o S João é um adolescente louro que gosta de se meter com as raparigas. Está vestido de azul e tem um cordeiro branco. Olha para nós, ri, e abençoa a noite mais curta e mais feliz do ano.
No S João as crianças devem saltar a fogueira, lançar fogo de artifício e deitar-se tarde.
No S João os adolescentes devem sair em grupo e não chegar a casa antes das 10 da manhã.
No S João todos devem cantar cantigas brejeiras e dizer malandrices às pessoas que passam.
No S João é obrigatório bater com a flor do alho porro ou com o martelinho de plástico na cabeça dos desconhecidos do sexo oposto.
Ninguém fica em casa na noite de S João. A festa é na rua e dura até ao meio dia.
Vestimo-nos para a festa... com roupa muito usada.
Vemos de longe o fogo de artifício. Não faz mal, já tínhamos deitado o nosso, há bocado. Segurámos na mão dos mais pequeninos porque esta noite todos brincam com o fogo.
No meio da rua fazemos uma roda e abrimos um círculo na multidão. Acendemos a mecha ao balão de papel e fazemo-lo subir. No céu já há centenas deles. Às vezes um inclina com o vento e arde.
Dançamos em todos os arraiais por onde passamos. Ao nascer do sol já estamos com fome. Comemos caldo verde e sardinhas, e bebemos vinho.
O sol já vai alto. Estamos cansados. São horas de irmos dormir para a praia
No Porto, o S João é um adolescente louro que gosta de se meter com as raparigas. Está vestido de azul e tem um cordeiro branco. Olha para nós, ri, e abençoa a noite mais curta e mais feliz do ano.
No S João as crianças devem saltar a fogueira, lançar fogo de artifício e deitar-se tarde.
No S João os adolescentes devem sair em grupo e não chegar a casa antes das 10 da manhã.
No S João todos devem cantar cantigas brejeiras e dizer malandrices às pessoas que passam.
No S João é obrigatório bater com a flor do alho porro ou com o martelinho de plástico na cabeça dos desconhecidos do sexo oposto.
Ninguém fica em casa na noite de S João. A festa é na rua e dura até ao meio dia.
Vestimo-nos para a festa... com roupa muito usada.
Vemos de longe o fogo de artifício. Não faz mal, já tínhamos deitado o nosso, há bocado. Segurámos na mão dos mais pequeninos porque esta noite todos brincam com o fogo.
No meio da rua fazemos uma roda e abrimos um círculo na multidão. Acendemos a mecha ao balão de papel e fazemo-lo subir. No céu já há centenas deles. Às vezes um inclina com o vento e arde.
Dançamos em todos os arraiais por onde passamos. Ao nascer do sol já estamos com fome. Comemos caldo verde e sardinhas, e bebemos vinho.
O sol já vai alto. Estamos cansados. São horas de irmos dormir para a praia
sábado, junho 22, 2002
escrevi isto para o "click me" dos ícones s. joão, faz agora 1 ano
a cascata
A 13 de Junho fazemos a cascata. Ela vai durar até ao S Pedro.
Tiramos os bonecos de barro da caixa onde estavam desde Junho passado.
Colamos os que entretanto se partiram . Os braços dos bailadores estão sempre partidos, e o S João já foi colado tantas vezes que vai ser preciso ir às Fontaínhas comprar um S João novo!
Fazemos um monte com pedras e terra. Desenhamos caminhos com areia. Cortamos ramos para fazer de árvores. Recortamos papel de prata para fazer o rio e o lago. Pomos musgo para fazer de erva.
Vamos buscar o vaso onde deixámos o paínço a crescer no escuro. Está crescido e branco. Pelo S João vai estar verde claro. Vai ficar na base da cascata ao pé dos manjericos.
Enfeitamos o topo com flores de alfazema e bandeirinhas de papel. É aí que fica o S João. Logo abaixo o Santo António e o S Pedro. A seguir, a festa com músicos, baile e os fogueteiros. Pelo caminho que vai até ao santo sobem as pessoas que levam oferendas: a mulher das galinhas, a peixeira e o peixeiro, o homem que leva um cordeiro às costas, a leiteira, a fruteira, a mulher das flores...
No outro caminho vai uma rusga. Os dois da frente levam o arco. A seguir vão os bombos, os caixas e os demais tocadores, e atrás deles as pessoas cantam e dançam.
Mas na cascata também se trabalha: uma lavadeira está a lavar a roupa, outra leva a trouxa com a roupa lavada, uma mulher espera a vez para encher o cântaro, outra leva o cântaro cheio à cabeça, o pescador pesca, o pastor guarda o gado, o moleiro leva à arreata o burro carregado com sacos de farinha...
Este ano a cascata está mesmo bonita!
a cascata
A 13 de Junho fazemos a cascata. Ela vai durar até ao S Pedro.
Tiramos os bonecos de barro da caixa onde estavam desde Junho passado.
Colamos os que entretanto se partiram . Os braços dos bailadores estão sempre partidos, e o S João já foi colado tantas vezes que vai ser preciso ir às Fontaínhas comprar um S João novo!
Fazemos um monte com pedras e terra. Desenhamos caminhos com areia. Cortamos ramos para fazer de árvores. Recortamos papel de prata para fazer o rio e o lago. Pomos musgo para fazer de erva.
Vamos buscar o vaso onde deixámos o paínço a crescer no escuro. Está crescido e branco. Pelo S João vai estar verde claro. Vai ficar na base da cascata ao pé dos manjericos.
Enfeitamos o topo com flores de alfazema e bandeirinhas de papel. É aí que fica o S João. Logo abaixo o Santo António e o S Pedro. A seguir, a festa com músicos, baile e os fogueteiros. Pelo caminho que vai até ao santo sobem as pessoas que levam oferendas: a mulher das galinhas, a peixeira e o peixeiro, o homem que leva um cordeiro às costas, a leiteira, a fruteira, a mulher das flores...
No outro caminho vai uma rusga. Os dois da frente levam o arco. A seguir vão os bombos, os caixas e os demais tocadores, e atrás deles as pessoas cantam e dançam.
Mas na cascata também se trabalha: uma lavadeira está a lavar a roupa, outra leva a trouxa com a roupa lavada, uma mulher espera a vez para encher o cântaro, outra leva o cântaro cheio à cabeça, o pescador pesca, o pastor guarda o gado, o moleiro leva à arreata o burro carregado com sacos de farinha...
Este ano a cascata está mesmo bonita!
quarta-feira, junho 19, 2002
Pátria
Por um país de pedra e vento duro
Por um país de luz perfeita e clara
Pelo negro da terra e pelo branco do muro
Pelos rostos de silêncio e de paciência
Que a miséria longamente desenhou
Rente aos ossos com toda a exactidão
Dum longo relatório irrecusável
E pelos rostos iguais ao sol e ao vento
E pela limpidez das tão amadas
Palavras sempre ditas com paixão
Pela cor e pelo peso das palavras
Pelo concreto silêncio limpo das palavras
Donde se erguem as coisas nomeadas
Pela nudez das palavras deslumbradas
-Pedra rio vento casa
Pranto dia canto alento
Espaço raiz e água
Ó minha pátria e meu centro
Me dói a lua me soluça o mar
E o exílio se inscreve em pleno tempo
Sophia de Mello Breyner Andresen - Livro sexto
fui buscar este poema aqui
Por um país de pedra e vento duro
Por um país de luz perfeita e clara
Pelo negro da terra e pelo branco do muro
Pelos rostos de silêncio e de paciência
Que a miséria longamente desenhou
Rente aos ossos com toda a exactidão
Dum longo relatório irrecusável
E pelos rostos iguais ao sol e ao vento
E pela limpidez das tão amadas
Palavras sempre ditas com paixão
Pela cor e pelo peso das palavras
Pelo concreto silêncio limpo das palavras
Donde se erguem as coisas nomeadas
Pela nudez das palavras deslumbradas
-Pedra rio vento casa
Pranto dia canto alento
Espaço raiz e água
Ó minha pátria e meu centro
Me dói a lua me soluça o mar
E o exílio se inscreve em pleno tempo
Sophia de Mello Breyner Andresen - Livro sexto
fui buscar este poema aqui
terça-feira, junho 18, 2002
o trabalho não é para aqui chamado. aqui estou noutro lugar. gosto do meu trabalho, ele é muito importante para mim, embora me esgote a cabeça e tantas vezes as emoções. chego a casa cansada e cinzenta. então procuro imagens e sons que não me magoem. dou uma volta pelos blogs para recarregar baterias.
está calor
doem-me as mãos
gosto muito de vocês
está calor
doem-me as mãos
gosto muito de vocês
domingo, junho 16, 2002
gosto do conto da adília lopes que a rosa pôs no blog dela
e da introdução escrita à maneira da adília lopes
e da introdução escrita à maneira da adília lopes
sábado, junho 15, 2002
sexta-feira, junho 14, 2002
quinta-feira, junho 13, 2002
quarta-feira, junho 12, 2002
ter o jorge sampaio como presidente da república é mais do que uma sorte, é um privilégio. isto é uma democracia representativa, mais ou menos representativa. ah, mas eu sinto-me muito bem representada por este ruivinho que, sempre que as coisas descambam, abre a boca e fala. com o seu ar de wody allen fala, e se for preciso acusa, e emociona, e faz reflectir.
o ateu de esquerda não alinhada, o humanista, o rapaz que se comove e chora em público - veja-se o que disse no 10 de junho
10 de Junho
PR Contra Entrega de Direitos "a Minorias Que Recusam Os Nossos Valores"
A abertura à imigração, segundo disse o Presidente da República no discurso de 10 de Junho, deve ter como contrapartida "uma rejeição firme dos isolacionismos religiosos e culturais". "Não podemos dar direitos políticos a minorias que recusam os nossos valores e não acatam as nossas leis".
no público de 11 de junho
eu "assino por baixo"
o ateu de esquerda não alinhada, o humanista, o rapaz que se comove e chora em público - veja-se o que disse no 10 de junho
10 de Junho
PR Contra Entrega de Direitos "a Minorias Que Recusam Os Nossos Valores"
A abertura à imigração, segundo disse o Presidente da República no discurso de 10 de Junho, deve ter como contrapartida "uma rejeição firme dos isolacionismos religiosos e culturais". "Não podemos dar direitos políticos a minorias que recusam os nossos valores e não acatam as nossas leis".
no público de 11 de junho
eu "assino por baixo"
citações no público (eu a falar de futebol??!!)
"O Papa é polaco mas... Deus é Pauleta."
Título do "24 Horas", 11-6-02
"O Papa é polaco mas... Deus é Pauleta."
Título do "24 Horas", 11-6-02
terça-feira, junho 11, 2002
ao Álvaro
"Apaga a luz. Guarda-me os óculos. Obrigado.
Como se chamava o homem da lavandaria,
o que trazia sempre a roupa trocada
e um dia trouxe uma camisa dele próprio
e a deixou ficar lá em casa mais de um mês
à espera que a mandássemos outra vez para lavar,
a ver se a recuperava?
(Ao fim de cinco semanas,
a mulher perdeu a paciência
e veio por ele e pela camisa, que ainda
estava dentro do saco de plástico
no guarda-fatos: era igual à minha, azul,
talvez de um azul menos óbvio mas, de qualquer modo, azul).
Lembrei-me dele porque
quando morreu tu disseste:
'Coitado, pode ser que acerte
com o caminho do céu!'
Tinha uns óculos de lentes grossíssimas,
e não me admiraria que a sua morte
tivesse sido, mais que morte, algum erro de paralaxe.
Agora, sem óculos, como saberá ele
se está vivo ou se está morto?"
Manuel António Pina
fui buscar este poema aqui
"Apaga a luz. Guarda-me os óculos. Obrigado.
Como se chamava o homem da lavandaria,
o que trazia sempre a roupa trocada
e um dia trouxe uma camisa dele próprio
e a deixou ficar lá em casa mais de um mês
à espera que a mandássemos outra vez para lavar,
a ver se a recuperava?
(Ao fim de cinco semanas,
a mulher perdeu a paciência
e veio por ele e pela camisa, que ainda
estava dentro do saco de plástico
no guarda-fatos: era igual à minha, azul,
talvez de um azul menos óbvio mas, de qualquer modo, azul).
Lembrei-me dele porque
quando morreu tu disseste:
'Coitado, pode ser que acerte
com o caminho do céu!'
Tinha uns óculos de lentes grossíssimas,
e não me admiraria que a sua morte
tivesse sido, mais que morte, algum erro de paralaxe.
Agora, sem óculos, como saberá ele
se está vivo ou se está morto?"
Manuel António Pina
fui buscar este poema aqui
segunda-feira, junho 10, 2002
domingo, junho 09, 2002
quarta-feira, junho 05, 2002
terça-feira, junho 04, 2002
segunda-feira, junho 03, 2002
domingo, junho 02, 2002
fala com ela (hable con ella)
não será o melhor filme do almodovar
mas vou querer voltar a vê-lo
o argumento, tão improvável como o dos outros filmes, torna-se plausível
as personagens que noutras mãos seriam perversas ficam aqui frágeis e humanas
e ainda por cima revejo estes dois dos meus maiores amores, estes meus dois irmãos, caetano e pina baush
eu estava a fungar quando a câmara vira para a plateia e mostra a personagem que chora
e eu a julgar que só eu é que chorava com a pina baush!
não será o melhor filme do almodovar
mas vou querer voltar a vê-lo
o argumento, tão improvável como o dos outros filmes, torna-se plausível
as personagens que noutras mãos seriam perversas ficam aqui frágeis e humanas
e ainda por cima revejo estes dois dos meus maiores amores, estes meus dois irmãos, caetano e pina baush
eu estava a fungar quando a câmara vira para a plateia e mostra a personagem que chora
e eu a julgar que só eu é que chorava com a pina baush!
há uns dias, protestei com alguém que escrevia na mailing list que ninguém compara um mac com um renault.
"as duas máquinas da minha vida foram a falecida 4L e este iMac"
sempre que pude evitei conduzir
eu não sei se gosto de conduzir
se calhar tenho medo, ou então é por preguiça que não conduzo agora
nunca peguei sequer neste carro
assim não tenho de ir ao supermercado (eu detesto ir ao supermercado)
e sou obrigada a andar a pé
gosto de andar de eléctrico
o trabalho não é longe de casa
quando estou cansada meto-me num taxi
gosto de andar no lugar do pendura e olhar pela janela.
ah... mas as 4L
foram duas. gostei mais da primeira. tinha a suspensão mais dura e nunca atolava. podia meter-se a qualquer caminho. atravessava ribeiros e rolava sobre a areia. carregava lenha ou livros com a mesma boa vontade. mudou-nos a casa mais do que uma vez
eu fui com ela para para vila do bispo. a 4L aprendeu os caminhos de terra e calhau para muitas praias e falésias. fizemos o caminho entre a vila e sagres, eu e a rosa de três anos, muitas vezes naqueles oito meses. entre a vila e a estação de lagos, a buscar e a levar o homem ao fim de semana. eu não ia a lisboa, vinha ele à vila. então, viva a preguiça, quem guiava era ele.
mas era a minha 4L. eu comprei dois autocolantes daqueles amarelos com um sol vermelho a rir, só para poder recortar o A de um deles e pôr no outro: nuclear não OBRIGADA.
comprei a chave de cruz porque era difícil trocar a roda com a outra chave.
a 4L tinha sempre areia no chão, e estava sempre tão coberta de pó que quando às vezes a lavava as pessoas perguntavam se tinha mudado de carro: o meu seria amarelo e aquele era branco.
eu agora não guio. mas ainda me lembro do gozo de conhecer de cor a curva da raposeira, de meter a terceira e acelerar no momento certo.
"as duas máquinas da minha vida foram a falecida 4L e este iMac"
sempre que pude evitei conduzir
eu não sei se gosto de conduzir
se calhar tenho medo, ou então é por preguiça que não conduzo agora
nunca peguei sequer neste carro
assim não tenho de ir ao supermercado (eu detesto ir ao supermercado)
e sou obrigada a andar a pé
gosto de andar de eléctrico
o trabalho não é longe de casa
quando estou cansada meto-me num taxi
gosto de andar no lugar do pendura e olhar pela janela.
ah... mas as 4L
foram duas. gostei mais da primeira. tinha a suspensão mais dura e nunca atolava. podia meter-se a qualquer caminho. atravessava ribeiros e rolava sobre a areia. carregava lenha ou livros com a mesma boa vontade. mudou-nos a casa mais do que uma vez
eu fui com ela para para vila do bispo. a 4L aprendeu os caminhos de terra e calhau para muitas praias e falésias. fizemos o caminho entre a vila e sagres, eu e a rosa de três anos, muitas vezes naqueles oito meses. entre a vila e a estação de lagos, a buscar e a levar o homem ao fim de semana. eu não ia a lisboa, vinha ele à vila. então, viva a preguiça, quem guiava era ele.
mas era a minha 4L. eu comprei dois autocolantes daqueles amarelos com um sol vermelho a rir, só para poder recortar o A de um deles e pôr no outro: nuclear não OBRIGADA.
comprei a chave de cruz porque era difícil trocar a roda com a outra chave.
a 4L tinha sempre areia no chão, e estava sempre tão coberta de pó que quando às vezes a lavava as pessoas perguntavam se tinha mudado de carro: o meu seria amarelo e aquele era branco.
eu agora não guio. mas ainda me lembro do gozo de conhecer de cor a curva da raposeira, de meter a terceira e acelerar no momento certo.
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