sexta-feira, dezembro 28, 2001

a casa agitada

cresci na casa. depois fugi. volto por obrigação.
amo a casa e não a suporto. há coisas que mudaram de sítio. mesmo alguns cheiros mudaram.

no natal voltamos todos. os vivos e também os mortos.
encontro o meu fantasma com oito anos
encontro o meu fantasma com dezoito
ouço todos os passos

volto ao meu canto no degrau da curva da escada de serviço. se vier alguém, posso escapar a tempo para a cave, para a copa, para a galeria, para o sótão. pelo postigo vejo a cozinha. chegam-me os cheiros. ouço as vozes na sala, os passos no corredor, nas escadas, nos quartos. ouço o cão no quintal. distingo o ranger de cada porta. sei quem sai e quem entra. ninguém me sente. sentada entre a roupa estendida na corda presa em vai e vem na quase hélice quase vertical do corrimão fumo um cigarro. o fumo sobe devagar e perde-se até ao sótão. aqui sossego. no centro do furacão-casa.

sábado, dezembro 22, 2001

mando e recebo mails de boas festas. o solstício é hoje. os dias já estão a crescer.

quarta-feira, dezembro 19, 2001

outra vez natal. sem crianças. mesmo assim natal. falta comprar prendas. ainda nem fiz a lista. não costumo deixar tudo para tão tarde.

sexta-feira, dezembro 07, 2001

é desta! vou fazer ícones para o pessoal das janelas, essa maioria. chamemos-lhe um assomo de boa vontade natalícia. sugestão da rosa e cortesia (embora paga) da fábrica dos ícones.
lá para 5ª feira já devem estar

quinta-feira, novembro 29, 2001

há quem roa as unhas. conheço algumas pessoas crescidas que as roem para além do sabugo. ficam com as mãos feias. quando seguram num lápis vê-se as unhas roídas. não devem ser grandes mãos para fazer festas. eu não roo as unhas. mas fumo. tenho de lavar as unhas e os dedos e os dentes, muitas vezes e muito bem lavados, para não ficarem manchados. mesmo assim ficam. paciência. eu gosto de fumar, mesmo que morra disso. só cigarros fortes, português suave sem filtro, lucky strike, gauloises, brandaris de enrolar. gosto do gosto e da nicotina.

domingo, novembro 04, 2001

este é o meu filho mais novo.
castelo da lousa
não é tanto o castelo. é o guadiana e as lajes de granito com cágados enormes a apanhar sol. os aloendros. os pássaros que se ouvem de todos os lados. os ecos dos pássaros, mais pássaros. os reflexos das lajes, outras lajes. ontem não havia cágados nem grandes reflexos, enfim, estamos em novembro e o rio vai cheio. os aloendros não tinham flor, mas tinham os frutos compridos, vermelhos escuros. e havia pássaros, ecos de pássaros, mais pássaros. peixes.
fui despedir-me do castelo da lousa (vai ficar debaixo da albufeira do alqueva). o que vai acontecer aos cágados? será que vão ser apanhados pela água enquanto hibernam? trouxe um ramo de aloendro. está metido numa jarra para ganhar raiz. pode ser que o vá devolver ao guadiana daqui a dois anos. se sobreviver posso plantá-lo outra vez ao pé da aldeia da luz nova, na margem da albufeira.

quarta-feira, outubro 31, 2001

às vezes acordo e o dia é diferente. as mesmas coisas parecem ter mais luz, mais cores, mais espessura. levantar, lavar, comer, fumar, sair de casa, tomar café, comprar cigarros, apanhar o elétrico. foi tudo como na véspera, como vinte dias antes. as coisas e as pessoas são as mesmas. a diferença vem de dentro. ou talvez seja o tempo mais fresco, e a luz de outono que muda a luz das coisas, e hoje calhou estar mais atenta. ao guindaste amarelo. à mancha na parede. à miúda que tira o telemóvel da mochila. à nuvem. à poeira que o autocarro levanta do chão da rua em obras.

domingo, outubro 28, 2001

ontem li. camilo
por cá ninguém nunca conseguiu chegar aos calcanhares do camilo
uma carta ao tomás ribeiro sobre o vinho do porto
genial
e raúl brandão - ainda vou a meio - sobre os açores. as nuvens. os lilazes, os roxos, os cinzentos, os azuis, os dourados, os quase negros. o verde. será que toda a gente vê assim?

quinta-feira, outubro 18, 2001

domingo, outubro 14, 2001

eu queria ser alegre
ter confiança nas pessoas
não maldizer
nunca me zangar
viver muito estraga algumas coisas

terça-feira, outubro 09, 2001

anoitece. o dia foi pesado. trago ainda na cabeça muitas vidas, é assim o meu trabalho. escutar, escutar, falar, observar, sorrir, aconselhar, analisar, prescrever, verificar, verificar, aconselhar, escutar, sorrir, sorrir, escutar. as pessoas são parecidas, as pessoas são diferentes, e assim os seus - meus - problemas. às vezes digo que estou farta de ser médica. não é verdade.
ouvi a conta das bombas de ontem. impessoais. necessárias.
a noite vai ser pesada.

sexta-feira, setembro 21, 2001

hoje choveu. tenho o quintal regado, as plantas lavadas. está fresco finalmente. gosto do outono. sempre gostei do outono.
hoje é dia sem carros. a cidade está mais silenciosa.
os meninos de baixo vieram brincar com a casinha das bonecas. as bonecas conversaram, brincaram, cozinharam, sentaram-se à mesa e comeram, subiram e desceram as escadas. agora estão outra vez quietas.

terça-feira, setembro 18, 2001

eu gostava das torres gémeas
vi-as desaparecer
num hotel em edimburgo, chorei cara abaixo, sem acreditar, sozinha
primeiro chorei pelas torres
só depois me lembrei das pessoas. posso ser assim, estúpida
depois telefonei para casa
eu também sou uma NYorker

quinta-feira, agosto 30, 2001

netcabo, netcabo... 11 dias com o modem avariado, 10 tentativas de contacto, horas pendurada ao telefone, só com ameaças se consegue alguma coisa. duas equipas que marcam e não aparecem. e a velocidade NÃO é a de uma auto-estrada! veremos se é hoje que o problema é resolvido. começo a desesperar!

terça-feira, agosto 28, 2001

as filhas: cada dia mais lindas e mais diferentes uma da outra. ambas com projectos. serão elas o meu melhor projecto? disparate. elas são os seus próprios projectos, enfim... com uns pozinhos meus.

domingo, agosto 26, 2001

já percebi tudo! agora posso cá voltar quando quiser
2 blogs não faz muito sentido, mas mais vale dois do que nenhum. seja: este mais público, o outro mais privado.
a casa está bonita para receber as filhas. uma de visita, a outra, para já, da casa. talvez não por muito tempo. ora que parvoíce... elas vão ser sempre da casa!

sábado, agosto 25, 2001

como voltei eu a este blog? não faço a mínima ideia.
o da rosa não está lá. o meu novo também não. mistérios.
a ana volta amanhã, a rosa depois de amanhã.
a vida volta ao normal?

quarta-feira, agosto 15, 2001

O quintal está uma selva. Já há montes de ramos cortados no chão e mal se nota a diferença
A casa vai estando mais arrumada
Encontrei uma redacção que a Ana fez na 1ª classe
"Era uma vez uma vaca
que mugia muito alto
e era uma vez um vaqueiro
que ressonava muito alto"

terça-feira, agosto 14, 2001

Amanhã é feriado
Hoje esteve sol, espero que amanhã continue
A vida é complicada mas hoje esteve sol
Talvez amanhã possa ir à praia
Tenho saudades das filhas
Vou fazer o jantar